sexta-feira, 25 de março de 2016

O QUE FAZER QUANDO ESTAMOS SÓS?




Ouvir o som atordoante do silêncio
Que invade a nossa vida.

Sentir a presença da falta
Que denuncia a ausência de alguém.

Partir de algum lugar
E caminhar sem chegar a lugar algum.

Olhar fixamente a linha do horizonte
E tentar compreender por que
Quanto mais nos aproximamos dela
Mais ela se distancia de nós.

Buscar dentro de nós mesmos
As lembranças de lugares que nunca visitamos
De pessoas que nunca conhecemos
E situações que jamais vivemos.

Ouvir o tic-tac do relógio denunciando
O tempo que jamais cessa ou retrocede
E que às vezes parece parar.

Regatar do fundo do nosso coração
Aqueles sentimentos e sensações
Que negamos sentir por algum motivo.

Sonhar com o momento
Em que as poderosas grades do nosso ego-prisão
Serão finalmente destruídas.

Sentir a carícia da brisa primaveril
Tocando a nossa face.

Visualizar internamente imagens inusitadas
De coisas que, exteriormente
Somos incapazes de realizar.

Conhecer o verdadeiro eu
Que se esconde por trás de nossas máscaras
E tentar assumir que de fato somos assim.

Desejar canta, pular, brincar, correr, gritar e dançar
Ao som dos pássaros que cantam infelizes
Presos em suas gaiolas.

Destruir castelos erguidos em nossos corações
Onde guardamos nossa porção da mais pura realeza.

Rever nossos conceitos e valores
Sejam religiosos, éticos, morais, filosóficos, políticos.

Conversar conosco sobre o fato
De jamais termos parado para nos ouvir.

Descobrir que não somos nós mesmos
Mas a totalidade das nossas crenças e valores
E a imagem que a sociedade nos cobra e projeta sobre nós.

Meditar sobre a fragilidade da nossa vida
Que é como a erva que nasce, cresce, envelhece e morre.

Descobrir que jamais estamos sós
Mas estamos sempre cercado de coisas e seus significados.

Atentar para as coisas que deram errado
Quando poderíamos ter feito dar certo.

Lembrar que com Deus jamais estamos sós
E a sua presença preenche completamente nossos espaços.

Pensar naquela pessoa amada que partiu
Sem a mínima intenção de voltar.

Fantasiar momentos inesquecíveis
Com as pessoas menos prováveis para realizá-los.

Amargar paixões utópicas e amores platônicos
Que insistem em martelar nosso coração.

Escrever poesias, estórias, crônicas, ensaios
Músicas, peças teatrais, críticas, estudos sobre diversos temas.

Ler a Bíblia e nela descobrir verdades absolutas
Que insistimos em negar e viver o contrário.

Contar as estrelas do céu e do mar.

Enxergar o monstro que existe dentro de nós
E negá-lo com veemência.

Viajar por reinos e mundos distantes
Dando luz à imaginação e à fantasia.


Ler este poema até o fim.

domingo, 13 de março de 2016

À sombra do nada vindouro





Ele veio de longe
E não se lembrava mais de onde havia partido
Poucas imagens vinham à sua mente
E a sua vida era como um tiro disparado na escuridão.

Os seus passos caminhavam lentos
E os seus olhos pareciam pertencer à outra dimensão
A noite era como o dia
E o dia era uma noite sem fim.

O que teria acontecido àquele homem?
Que catástrofe teria roubado a sua consciência?
Perguntas jamais respondidas
Motivos jamais procurados.

Onde quer que a verdade estivesse escondida
Para sempre ficaria enterrada
Ele partiu para longe
Deixando pra trás a sombra do que um dia foi.

Sem nome e sem identidade
Quem iria se lembrar de alguém assim?
Quem iria se importar?
Ele era apenas uma incógnita a caminhar.

No meio dos equívocos ele desapareceu
Sem falar qualquer palavra
Sem qualquer tipo de reação
O breu o recebeu em suas entranhas.

Empreendeu sua longa viagem rumo ao nada
Com o desejo de, quem sabe um dia
Relembrar quem foi, recordar o que fez

Reviver o que sentiu e ser um ser, e ser seu.

quinta-feira, 3 de março de 2016

TEORIAS E TEOREMAS







Eu criei uma filosofia, e depois uma teoria
Para explicar tudo o que via, sentia
Tudo o que pensava e observava
Aquilo que eu fazia da minha vida
E também aquilo que a vida me fazia.

Criei esquemas, inventei mil teoremas
Pesei cada circunstância e diversas situações
Delimitei espaços, tracei metas
De um ponto a outro fiz uma linha reta
E no final de tudo eu tinha em mãos
Um maravilhoso manual de instruções.

Então fiquei de pé sobre o monte da minha vida
Observando cada subida e cada descida
Programando como agiria em determinados momentos
Baseado nas teorias sobre o que já vivera
Em tudo aquilo que no passado me acontecera
Nas atitudes que tomei ou deixei de tomar
As soluções encontradas e as desencontradas
Para saber o que fazer e falar.

Criei vários compartimentos dentro de mim
Que seriam abertos nos momentos de necessidade
Ou que seriam fechados se caso precisasse
Mas uma vez acionados, cumpririam o seu papel:
Resolver os problemas, enfrentar as dores
Ser proativo em um mundo de muitos dissabores
Para estar firme, de pé, mantendo acesa a fé.

Eu tinha o compartimento da minha vida emocional
Da minha vida prática aliada à espiritual
Dos pecados secretos que não quero nem falar
Dos medos e das dúvidas que podiam me abalar.
Compartimentos da minha vida afetiva
E tudo aquilo que dizia respeito à minha família
Aos amigos, ao trabalho, à diversão, à poesia
E quem sabe a uma amada sempre tardia.

Compartimentos havia para todas as ocasiões
Com as instruções preparadas para cada ação
Mas logo percebi o que uma grande lição:
“Não se entra duas vezes no mesmo rio”.
Então por um fio estavam os meus esquemas
Meus teoremas, minhas filosofias, minha pretensão
De achar que a vida é tão medíocre e pequena
Capaz de caber inteira no meu manual de instrução!

Os problemas passados sempre vêm em novas formas
As soluções experimentadas nem sempre funcionam
A cada dia é um dia novo na nossa existência
A nossa essência não admite repetições equivocadas
O inesperado sempre nos arma uma emboscada
E aquele alicerce que achávamos bem construído
Faz o efeito contrário e tudo acaba destruído.

Aprendi a viver a cada dia de forma única
Uso todas as experiências que da vida eu apreendi
Mas entendo que cada momento é um momento
Cada problema é um invento que precisa ser aprendido
O que ontem funcionou, hoje pode estar perdido!
Novas armas, novas ideias, novas teorias e teoremas
Mudando constantemente o formato do esquema
E tudo se encaixa a cada dia um pouco mais.

Das minhas filosofias e das minhas teorias
Somente a minha fé jamais admitirá variação
E eu sigo crendo fielmente, bem no fundo do coração
Que os problemas são vírgulas que Deus nos acrescenta
Antes da chegada daquele ponto final.
Esperança que se vê, não é esperança
Não preciso de manuais, mas apenas da confiança
De que pela fé todas as coisas se transformam

E que no fim de tudo terei a eterna bonança.

Mizael de Souza Xavier
03.03.2016