quarta-feira, 20 de abril de 2011

homem e seus sonhos



O homem se orgulha do seu trabalho
E das obras das suas próprias mãos
Olha para o seu sonho realizado
E enxerga nele cada gota de suor derramado
Todas as noites que passou em claro
Todo o esforço investido
E tudo aquilo de que precisou abrir mão
Para que finalmente chegasse
Onde exatamente está.

É a sua glória, o seu apogeu!
Olha para a platéia e curva-se
À espera de ovações e reconhecimento
É ele o ator principal da sua história
O autor único das suas conquistas
O arquiteto das suas grandes vitórias
Ele mereceu estar ali
Ele certamente está feliz por isso.

Oh, homem insensato!
O que ele possui que de Deus
Não o tenha recebido?
Quem, por mais talentoso que seja
Por maiores aptidões que possua
Por mais dinheiro que consiga juntar
Pode controlar o seu próprio destino
Ou simplesmente garantir a certeza
De acordar vivo no outro dia?

Ora, de onde vem o ar que alimenta seus pulmões
Ou quem criou a atmosfera que o envolve?
Quem criou os dinossauros que morreram
E que apodreceram no subsolo
Para se transformarem em combustíveis fósseis
Que fazem seus carros andarem
Que fazem funcionar suas fábricas
Que produzem os seus bens?

Quem criou a terra, as plantas
E os animais que lhe servem como alimento?
Quem formou todas as riquezas minerais
Todos os elementos químicos
Ou quem dispôs em perfeita harmonia
Todas as leis que regem a natureza
As leis da física, da química, da biologia
As leis da matemática e tantas outras mais?

Quem mantém o sol e a lua exatamente onde estão
E os impede de se aproximar ou se distanciar
Um único grau do nosso planeta
Impedindo que todo ser vivo morra queimado ou congelado?
Quem criou os ciclos das chuvas
E pôs o nível nos oceanos e mares?
Quem criou o solo que faz crescer as hortaliças
E que alimenta o gado, os cavalos
E todos os animais dos quais tal homem depende?
Ou quem criou todos esses animais?

Mas o homem olha para o céu e as estrelas
Olha para a riqueza ao seu redor
Senta-se sobre suas grandes conquistas
E diz a si mesmo:
“O universo inteiro conspira a meu favor”.
E quem criou o universo que o rodeia?
Quem o colocou no universo para existir
Nesse minúsculo planeta chamado Terra?

Assim como o orvalho da manhã é a vida do homem
Seca-se aos primeiros raios do sol
Com a brisa que sopra sobre as árvores
Ou como as inconstantes ondas do oceano
É o homem e todas as suas conquistas.
Aquilo que é sólido como uma rocha hoje
Amanhã pode esvair-se como poeira
Aquilo que traz grade certeza ao seu coração
Amanhã poderá ser a sua loucura.

Diante da vida que não se medra
Ou da morte sutil que nunca se espera
Caem as conquistas desse homem insano
E todos os seus sonhos e os seus planos
Como fruta apodrecendo no pomar
Lançam-se ao chão e delas ninguém jamais falará
E jamais poderão lhe garantir a felicidade
E a satisfação de construir castelos
E conquistar tesouros eternos
Onde a traça e o tempo não podem roer
Ou os ladrões e as circunstancias não podem roubar.

Quisera o homem olhar para os céus
Com os joelhos cravados na terra em adoração
Agradecendo a Deus cada gota de vida
E cada sucesso que sua vida alcance
Reconhecendo nele o autor de tudo que há
De quem vem todo dom perfeito
E de quem procede todas as boas dádivas
Todas as graças que nos trazem alegria
E todas as coisas que nos permitem estar vivos.

Ah, que orações lindas seriam feitas
Dedicando a ele o lugar mais alto no pódio
E esperando dele a força e a capacidade necessárias
Para continuar lutando, vencendo
Para poder todos os dias abrir os olhos e dizer:
“Estou vivo em mais um dia que Deus me deu”.
E aquele será o único dia, a única oportunidade
O momento exato de todas as coisas acontecerem
Sob a benção do criador da vida
Do autor e consumador da nossa fé
Do Deus da nossa salvação.

Amém.

domingo, 17 de abril de 2011

o que é o amor?

            Será possível definir algo tão transcendente como o amor? Onde buscar conceitos em pensamentos humanos tão complexos que anseiam por explicar algo que parece estar muito além da sua capacidade de compreensão. E será mesmo que explicar o amor é tão complicado assim? Na Bíblia não encontramos explicações como aquelas figurinhas dos anos de 1980 onde aprendemos que “amar é”. Mesmo o texto áureo do amor – 1 Coríntios 13 – não diz: o amor “é paciência”, mas que o amor “é paciente”. Ele não ensina que o amor “é benignidade”, mas que ele “é benigno”. Então o amor não é; o amor faz. E é pelos frutos que reconheceremos aquilo que é amor e o que não é. É fácil ser paciente quando algo nos interessa muito. Precisamos cavar profundo.
            Muitos estudiosos procuram classificar as diversas formas de amor existentes nas relações humanas: um amor ligado a família, outro expressado nas relações interpessoais; o amor a si mesmo, o amor de reprodução e aquele puramente de recreação. Tantas classificações podem gerar alguma confusão quando falamos de amor num sentido mais pleno. Tais estudiosos não vêm barreiras para, por exemplo, a poligamia ou a relação amorosa entre pessoas do mesmo sexo. A relação extraconjugal também não é um problema, uma vez que o indivíduo saiba fazer a separação entre o amor que sente por sua esposa e aquele que se presta apenas a recreação. É, segundo Gaiarsa (2004, 33,34), a tese dos “dois amores”. Mas no amor, é possível haver dois amores?
O amor já foi definido como um termo único para designar diferentes sentimentos, pensamentos e ações. Se for assim, podemos crer que possam existir diversos tipos de amor, visto a complexidade de sentimentos, pensamentos e ações do ser humano, todos ocasionados por motivações e causas diversas. Por não existir uma pessoa idêntica à outra, embora fisicamente elas possam ser perfeitas cópias, a forma como cada uma sentirá e vivenciará o amor será diferente. Cada pessoa acaba dando ao amor o seu próprio significado.
            Mas o que realmente é o amor? Apenas um sentimento do coração ou um sistema de valores que redundam em atitudes amorosas? O conceito de amor será diferente para cada povo do planeta, para cada seguimento religioso e social. O conceito de amor também irá variar de acordo com as crenças e os valores de cada indivíduo. O modo diferente como experimentamos o amor nos faz ter percepções diferentes, o que não afasta a possibilidade de investirmos pesquisa e conhecimento em busca de uma definição ideal que possa refletir de maneira positiva este sentimento universal que nos acompanha desde o início dos tempos.
            O objetivo primordial deste estudo não é se aprofundar nas questões teóricas sobre o amor, mas debater pontos importantes na arte de amar, o que envolve um estudo mais acurado. Todavia, para compreendermos a profundidade do tema e a sua dificuldade de estudo, devemos dar uma busca em alguns conceitos sobre o amor. Como afirmei no início deste livro, o meu norte está na Palavra de Deus, onde o Deus-amor se revela a nós. Estes conceitos não têm a intenção de descartar as descobertas cientificas a cerca dos relacionamentos humanos e de como agimos em dadas situações. Na verdade, eles tencionam reafirmar descobertas racionais e ao mesmo tempo fundamentar aquilo que não se pode provar através de experimentos científicos, mas que a Palavra de Deus demonstra claramente.


Um conceito bíblico

            Antes de iniciar este estudo, dei uma boa olhada nos livros de psicologia, dicionários de psicanálise e filosofia e pesquisei alguns outros que cheguei a utilizar como base para o que eu já havia pensado. Através deles tentei formular um conceito sobre amor que abrangesse todas estas áreas, incluindo a antropologia e a sociologia. Mas seria muito complicado explicar com tantas teorias algo tão singelo como o amor. Isto sem contar que todo o meu conhecimento nestas áreas é completamente vago. Então, preferi deixar com esses estudiosos tais definições e parti para aquilo que realmente sei, porque Deus tem me instruído: o amor através da Bíblia. Não a totalidade das explicações, porque estas aparecerão naturalmente durante as explanações que se seguirão.
            O amor descrito na Bíblia, tanto no Antigo como no Novo Testamento, é um dever religioso que deve se manifestar de duas formas: amor a Deus e amor ao próximo.


Antigo Testamento

As palavras utilizadas para amor no Antigo Testamento são yãdhadh (Sl 127:2), hãshaq (Sl 91:14), hãbhabh (Dt 33:3), ‘ãghabh (Jr 4:30) e  rãham (Sl 18:1). Elas conotam a mais profunda expressão possível de personalidade e de intimidade de relações pessoais, quer do homem para com o homem, deste para com Deus ou de Deus para com ele. Os termos hebraicos dôdh e ra’yâ indicam o amor apaixonado e seu objeto feminino, especialmente no livro de Cantares. Outro termo – sãhêbh – também é utilizado para indicar atração mútua entre os sexos.
Também é palavra usada para indicar verdadeira multidão de relações pessoais (Gn 22:2; 37:3) e sub-pessoais (Pv 18:21) que não tem qualquer conexão com o impulso sexual. Fundamentalmente, trata-se de uma força interior (Dt 6:5; ‘poder’) que impele uma ação que proporciona prazer (Pv 20:13), alcançar o objetivo que desperta o desejo (Gn 27:4), ou no caso de pessoas, que impele ao auto-sacrifício pelo bem do ente amado (Lv 19:18,33) bem como inquebrantável lealdade à pessoa (1 Sm 20:17-42).[1]
            O amor no Antigo Testamento é, então, um dever religioso para com Deus (Dt 6:5), o que consiste em comunhão com Ele (Jr 2:2; Sl 18:1; 116:1) e materialização da obediência diária aos seus mandamentos (Dt 10:12), e para com os próprios semelhantes como relação humana ideal (Lv 19:17,19). O amor bíblico do Antigo Testamento é vertical: ele começa em Deus e retorna a ele; mas é também horizontal: ele se estende ao próximo.


Novo Testamento

            A palavra mais comumente empregada para todas as espécies de amor no Novo Testamento é agape  agapaõ, expressando a forma mais nobre e elevada do amor. Phileõ é o termo alternativo para agapã e á mais naturalmente empregado para indicar afeição íntima (Jo 11:3,36; Ap 3:19), e para indicar o prazer de fazer coisas agradáveis (Mt 6:5). Também aqui o amor é um dever religioso para com Deus e nossos semelhantes (Rm 5:10; Cl 1:21; Lc 19:14; Jo 5:18; 1 Jo 4:11,19).


Muito mais que um dever

            Lendo assim, podemos pensar que a Bíblia trata o amor como uma simples obrigação religiosa a ser praticada entre tantas outras mais, como orar, ler a Bíblia, dar o dízimo, etc., mas não é bem assim. A começar por Deus que nos amou sobremaneira, ao ponto de fazer-se homem e entregar a própria vida para nos salvar, o amor envolve atitudes de abnegação e altruísmo, que devem ser praticados com o coração sincero e sem fingimento. Estes princípios estão por toda a Palavra de Deus, passando pelos fariseus que pretendiam sere vistos por todos através das suas manifestações de caridade e “amor”, até os cristãos, instruídos por Jesus a dar a vida pelo próximo.
            Eis alguns princípios bíblicos do amor. Aprendendo com eles, poderemos manter relações afetivas saudáveis e duradouras.


[1] J. D. DOUGLAS, Novo dicionário da Bíblia, p. 69.


QUER LER MAIS? AGUARDE O LANÇAMENTO DO LIVRO:

SOBRE O AMOR E O AMAR

EM BREVE!!!


confissões de um viciado



Todas as pessoas que me conhecem, e até mesmo aquelas que jamais me conheceram ou me conhecerão um dia, saberão de algo que venho escondendo há bastante tempo, um lado meu oculto que jamais compartilhei com ninguém, uma coisa que talvez alguém de olhar mais aguçado já tenha percebido em mim. Sim, pretendo nestas poucas linhas desvendar o meu maior segredo, o meu lado enigmático, o Mizael que se esconde detrás do espelho do meu rosto. Este Mizael só é totalmente conhecido por Deus e parcialmente conhecido por mim.
                Eis o que sou: UM VICIADO. Sim, eu confesso, sou um viciado e há muito tempo venho lutando para sustentar o meu vício. Tudo começou quando eu tinha apenas doze anos de idade. Sei que é muito cedo para alguém se iniciar nessa vida, mas não pude fugir, porque foi muito mais forte que eu, principalmente naquela idade, com minha mente infantil se formando ainda, quase chegando à adolescência, a idade da busca por razão. Não me lembro bem como foi a primeira vez, mas sei que as sensações que senti foram muito boas, me fizeram voar e conhecer lugares e coisas que eu jamais pensei existir. Eu me senti como um super-homem, um ser capaz de fazer qualquer coisa. E eu fazia!
                O que começou com algo infantil, simples, foi-se transformando ao longo dos anos, foi ficando maior. Eu sentia o meu vício pulsar nas minhas veias, na minha mente, no meu coração. Quanto mais eu tinha, mais eu queria ter. Não me contentava com pouco, não suportava viver sem aquilo que tomara contra totalmente de mim. Eu estava preso, encarcerado ao meu vício como um leão numa jaula. Quanto mais o tempo passava, mais eu buscava novas formas de me saciar, com coisas maiores, mais complexas. Eu precisava de mais, precisava evoluir, experimentar novos horizontes para conseguir manter minha mente tranqüila. A cada dia eu me aprofundava mais e mais.
                Na minha maioridade conheci uma pessoa, um jornalista. Ele me fez uma proposta. Eu não pensei duas vezes e aí ele me iniciou num novo caminho, numa nova forma de saciar o meu vício que eu jamais havia experimentado. Confesso que isso marcou profundamente a minha vida, mudou completamente o meu ser. Quando experimentei aquilo que o meu amigo jornalista me ofereceu, foi como se eu caminhasse nas nuvens, tocasse o céu, pairasse sobre o mar, beijasse o horizonte, abraçasse o arco-íris. Nunca mais fui o mesmo. E sempre pensava: Quero mais! Preciso de mais! Não tardou para eu viver numa compulsão de me aprofundar cada vez mais nesse vício.
                Durante algum tempo vivi uma síndrome de abstinência, pois não conseguia formas de alimentar o meu vício. Eu me sentia vazio, vivendo uma vida sem sentido. Olhava para as pessoas que possuíam o mesmo vício que eu, felizes, consumindo o que mais amavam, e eu ali, incapaz. Eu fazia de tudo para alimentar a minha compulsão, mas nada acontecia, nada havia, nada dava certo. Tentei outros caminhos, outros vícios; atirei para todos os lados para ver se conseguia acertar em algo, mas foi inútil. Não há nada pior do que você ser privado daquilo que mais ama, daquilo que depende para viver.
                Mas finalmente o meu tempo de deserto passou. O vício que eu experimentava de formas tão limitadas se expandiu quando duas coisas aconteceram na minha vida: quando comecei a trabalhar numa livraria e quando me converti a Jesus. Esses dois fatores só serviram para aumentar ainda o meu vício, principalmente as formas de manifestá-lo e saciá-lo. Hoje posso dizer que sou um viciado bem-sucedido e completo. Não só alimento o meu vício diariamente como posso compartilhá-lo com outras pessoas e estimulá-las ao mesmo vício que eu. É maravilhoso quando consigo encaminhar alguém pelas mesmas veredas que tenho trilhado.
O que espero para o futuro? Poder me viciar a cada dia mais e contaminar a vida de todos com o mesmo vício que contaminou a minha. Esse vício foi Deus que me deu. Amém.
                Antes que eu me esqueça, o meu vício é ESCREVER.

segunda-feira, 4 de abril de 2011

este poeta que te ama



Quem é este poeta
Para merecer o teu sorriso
Ter o brilho dos teus olhos
E chamar sua atenção?

Quem é este poeta
Pra fazer parte da tua vida
Estar nos teus pensamentos
E conquistar teu coração?

Talvez eu não seja nada
Mas sei que ao te conhecer
Tudo em mim se transformou
E o que eu sou é pra você.

As minhas manhãs tão cinzentas
A tua presença encheu de cores
O meu coração tão vazio
Você encheu com muitas flores.

Quem sou eu, então
Ou aquilo que eu possa ser
Para mim só terá sentido
Se for vivido com você.

Então quem eu sou
Agora sei e posso explicar
Sou alguém que hoje sonha
Em viver pra te amar.

a idealização do outro: mito e realidade

TEXTO QUE FARÁ PARTE DO MEU PRÓXIMO LIVRO:
"SOBRE O AMOR E O AMAR"

AGUARDE LANÇAMENTO

Quando sentimos falta de algo que quem amamos não pode nos suprir, são grandes as chances do nosso relacionamento ruir. Como seres humanos limitados e incompletos que somos, incapazes de satisfazer-nos naquilo que necessitamos para ser felizes, nos vemos impossibilitados de completar o outro de maneira perfeita. Ele, por sua vez, também não poderá satisfazer todas as nossas ansiedades e desejos de maneira eficaz. Haverá sempre algo faltando, sempre algo desejando ser preenchido, seja uma estabilidade financeira ou um suporte emocional, seja segurança ou uma parceria solidificada.
            O que acontece quando surge alguém oferecendo aquilo que tanto ansiamos e nosso cônjuge não pode nos dar? O que acontece quando aquele carinho e aquele romantismo que falta no casamento vêm por meio de um terceiro? O ideal seria não acontecer nada, mas infelizmente a realidade é outra. Quando surge alguém que nos oferece esse algo mais que está nos faltando, a tendência é nos ligarmos a ele e investirmos numa nova relação. Esta situação não é novidade para uma grande quantidade de casais, acima de tudo nesses tempos de Internet, com todos os seus sites de relacionamentos disponíveis que tem colocado todo mundo a disposição de todo mundo o tempo todo.
            Já conheci pessoalmente muitos casos emblemáticos. A esposa reclama que o marido não liga mais para ela, não a trata como no início do relacionamento, mas sim de maneira bruta e injusta. Ela está sedenta por um elogio, por uma estabilidade emocional, por alguém que perceba o quanto ela é linda e a valorize. E ela encontra esse alguém. Aquela relação primeira sede lugar a outra escondida, mas que a satisfaz, porque o amante é e lhe dá tudo aquilo que ela esperava que o marido fosse e lhe desse. O mesmo ocorre com o homem quando a mulher não preenche as suas necessidades em algumas áreas, em especial na relação sexual. Ele sente-se insatisfeito e precisa provar novas emoções e sensações, experimentar posições que a sua esposa se recusa a fazer. Estes são apenas alguns exemplos toscos de uma realidade muito mais profunda e séria e que pode transformar uma relação a dois numa busca desenfreada por sensações e necessidades que jamais poderão ser satisfeitas, porque haverá sempre algo mais a ser preenchido.
            Os estudiosos possuem inúmeras formas de explicar esse fenômeno. Todavia, algo que sempre parece escapar do entendimento de muitos quando se trata desta situação de incompletude e da necessidade de satisfazer necessidades que o parceiro não satisfaz, é que esta jamais foi uma relação de amor verdadeiro. Isto é um fato. A maioria dos relacionamentos não tem início no anseio de dois seres que desejam completar um ao outro e fazer um ao outro feliz. Um dia tive uma discussão com alguém com quem eu tinha me relacionado, alguém que demonstrara ser um ser humano egocêntrico e interessado tão somente em satisfazer as suas necessidades emocionais. Eu lhe disse que enquanto não revisse a sua posição jamais conseguiria fazer alguém feliz. Ela disse que não estava interessada em fazer ninguém feliz, mas em ser feliz, o outro que se virasse pra lá.
O que existe por detrás de muitas declarações de amor é apenas um desejo egoísta de ser feliz através daquilo que o ser amado pode oferecer. A carência afetiva, a necessidade de uma instabilidade emocional ou financeira, a pressão da família, o desejo por libertar-se dos pais e adquirir autonomia vem travestidos de amor. Não quero dizer que é errado desejar e buscar a própria felicidade, o próprio bem-estar. Como aprenderemos ainda com esse estudo, é preciso amar primeiramente a si mesmo para poder amar o próximo. O erro está em envolver-se numa relação a dois buscando satisfazer todas as nossas necessidades sem levar em conta os anseios do outro, sem o desejo de contribuir para a felicidade dele. Existem pessoas que a principio jamais deveriam ter se casado, pois está patente que elas não nasceram para dar, mas somente para receber e nada mais.
O que acontece numa relação dessas quando quem deveria ser amado deixa de dar e de ser aquilo que projetamos antes, quando aquela imagem de um super-herói que nos livraria para sempre da sombra da infelicidade cede lugar a imagem real de uma pessoa frágil e problemática como nós? O que acontece quando não estamos mais certos que aquela pessoa com quem nos casamos não “dará conta do recado”? Acontece o obvio. O vínculo tênue que nos ligava a ele se rompe através da decepção e da ansiedade em continuar bebendo de uma fonte inesgotável de alegria e prazer. Quando esse vínculo é rompido, aquilo que está lá fora começa a nos chamar a atenção e o relacionamento primeiro sede lugar a outro, onde depositaremos as nossas novas esperanças.
Como podemos perceber, o problema não está no percurso, mas no início da caminhada. Quando entramos num relacionamento amoroso com a motivação errada, a tendência é nos frustrarmos. E quando colocamos sobre alguém uma carga injusta de “salvador da pátria”, a frustração pode ser ainda maior. Criamos, no início da relação, a imagem de uma pessoa impar, perfeita, capaz de nos dar o que precisamos, de ser o que esperamos e fazer tudo que estiver ao seu alcance para que sejamos felizes. Mas aos poucos essa pessoa fictícia vai cedendo lugar a sua verdadeira imagem, aquilo que ela realmente é sem a tinta com que a pintamos no início. E se essa nova imagem, essa nova pessoa não continua nos satisfazendo como antes, a imagem anterior vai-se apagando aos poucos e o relacionamento aos poucos se desgasta até ruir de vez.
A realidade é que o que se desgasta não é a pessoa. Ela não mudou, não se tornou ruim de um dia para o outro. É a nossa esperança de obter dela aquilo que desejávamos que vai se esvaindo diante daquilo que ela realmente é. Mesmo que aconteça de maneira inconsciente, o fato é que entramos numa relação não para fazer os o ser amado feliz, mas para ser felizes as suas custas. E quando ele deixa de representar o nosso ideal de felicidade, torna-se obsoleto. Isso tem haver com aquilo que desde o início temos falado: a nossa concepção de amor. Amar significa, entre outras coisas, completar-se no outro. É claro que jamais poderemos completar ninguém em toda a sua plenitude, porque somos incapazes de completar a nós mesmos. Somente Deus pode ser tudo em todos. Mas em algumas áreas que ele tem dificuldade e necessidade, procuraremos preencher, dar o nosso melhor. Se amamos, compreenderemos as suas deficiências e nos disporemos sempre a ajudar. Ele, por sua vez, fará o mesmo por nós e ambos teremos o suficiente para permanecermos felizes, mesmo que em algumas áreas ambos ainda sintam alguma deficiência.
A nossa insatisfação provém da vontade que temos de apenas receber, jamais dar. É claro que a história muda quando de fato o outro não está cumprindo com o seu papel. Mas precisamos pensar: pode ser que eu seja esse outro da relação. É um pensamento comum que só buscamos lá fora o que não temos no nosso casamento. Pode até ser que isso seja uma verdade, mas é algo que começa pela falta de amor. Quando não amamos, queremos apenas alguém do nosso lado para cumprir o seu papel de mantenedor, e se esse papel não é bem representado, buscamos na multidão alguém que queira representá-lo. Alguns estudiosos encontram legitimidade nessa forma de completar-se, insinuando que não há problema em ter vários relacionamentos e ir completando-se aos poucos em cada um deles. Maria não é boa de cama, mas Joana é; Joana não me dá segurança emocional, mas Marina dá; Marina não é companheira, mas Ana é. E por aí vamos colecionando retalhos na tentativa de nos vermos felizes e completos.
Mas quando saímos do conforto ou do desconforto do nosso relacionamento e buscamos lá fora aquilo que julgamos não ter aqui dentro, outro fenômeno se manifesta que complica ainda mais a situação. Esse fenômeno é comprovado através de inúmeros casos de relações extraconjugais e segundos casamentos: o outro pode suprir uma falta nossa por algum tempo, mas não por todo o tempo. Ainda outro problema é: a sua eficiência em algumas áreas não esconderá a sua deficiência em outras. No fim o que restará é aquela velha teoria dos muitos amores com a justificativa de que cada um suprirá um pedaço das nossas necessidades. Isto é amor ou um uso das pessoas para dar aquilo que queremos?