domingo, 31 de outubro de 2010

eternas lembranças

Eternas Lembranças


O que é a distância ou o tempo
Quando o sentimento que nos une
É maior que a saudade
Que sentimos quando estamos longe
E muito tempo sem nos ver?

Pois mesmo estando separados
Eu não tiro da minha lembrança
Todos os momentos maravilhosos
Que passamos lado a lado
Todas as alegrias que compartilhamos
Todas as coisas que realizamos
E até mesmo as lágrimas que choramos
Na hora de dizer adeus.

E no meu coração repousa
Este amor forte que aprendi a ter
Por cada uma de vocês
Amor que supera as barreiras
Amor incondicional, sem fronteiras
Que me traz alegria e paz.

E sempre me ponho a pensar
Em cada sorriso, em cada olhar
Em cada gesto de amor, de carinho
Que todas vocês tinham por mim.

Agradeço, então, a Deus
Por ter me dado o prazer
De conhecer crianças tão maravilhosas
Cheias de vida, riso, força, esperança, afeto...

Peço a Ele
Que guarde cada uma de vocês
E que um dia todas compreendam
O amor de Jesus que morreu
E ressuscitou para nos salvar.

Realmente, não há distância ou tempo
Que supere este amor
Porque em todos os momentos de minha vida
Estarei a lembrar de vocês
E a agradecer a Deus sinceramente
Por este privilégio maravilhoso
De fazer parte de suas vidas.

Amo vocês demais!
Amo muito, muito, muito...
Mas Jesus Cristo ama mais!

escrita em 1997, em homenagem a Priscila (minha mais querida), Alzeane, Alzenira, Ana Keila, Daniela, Ericarla, Eridiana e Eternizia.

se eu pudesse mudar o mundo



Se eu pudesse mudar o mundo
Por onde começaria
Já que os erros que se mostram
Aumentam a cada dia
Transformando a vida em sertão
Matando João, matando Maria
E tirando de poucos a fé
De que um dia a chuva viria?

Se eu pudesse mudar o mundo
Talvez não o mudaria
Porque para o mundo mudar
Primeiro eu precisaria
Mudar tudo que há dentro de mim
Aquilo que chamam porcaria
Um sentimento que domina o mundo
Em muitos Josés e muitas Marias
De querer abraçar o mundo com as pernas
Mesmo sem saber se caberia.

Então, para o mundo mudar
A mim primeiro transformaria
O meu coração de farrapos
A Deus ofertaria
E como o oleiro no barro
Nova pulsação moldaria
O ódio que às vezes me consome
Em amor se tornaria
O desprezo pelos mais fracos
Solidariedade, então, seria
A mentira, a ganância, a inveja
No abismo eu jogaria
E todos os meus castelos
Um por um destruiria
Então, com o meu eu transformado
Um novo homem seria
Comprometido em fazer do mundo
Um lugar de muita alegria.

O pão que de muitos roubava
Em abundância devolveria
No chão que a muitos privava
Muitas famílias assentaria
Se mendigos na rua houvesse
Às suas casas despediria
E a criança que morria de fome
Bem saudável cresceria.

A liberdade outrora aprisionada
Das correntes libertaria
A voz na garganta, sufocada
Bem mais forte gritaria
A bandeira de justiça e da paz
Neste mundo hastearia
O sorriso adormecido
Com certeza acordaria
O Evangelho da salvação
Ao mundo eu pregaria.

Guerras não mais haveria
A união resplandeceria
Em um mundo transformados
Com Josés e muitas Marias
Transformados, também, por dentro
Agindo com sabedoria
Colhendo os frutos do amor
Que a nova vida proporcionaria
Porque em momentos de fraqueza
Bem mais forte cada um seria.

Mudar o mundo, certamente
Já não mais precisaria
Se nós mudássemos, naturalmente
O mundo também mudaria
E a vontade do céu
Na Terra, então, se faria.

a vida por um gole



            A novela Páginas da vida apresentada todas as noites em 2006, de segunda a sexta-feira, pela Rede Globo, trouxe em seu enredo um assunto relevante para os dias atuais. Ela apresentou a história de Ubirajara Rangel, o Bira, (Eduardo Lago), um alcoólatra que lutava para se livrar do vício, enquanto passava por momentos de humilhação pública e de desprezo e vergonha por parte de seus familiares. O drama vivido pelo personagem fictício é bastante real na vida de milhões de pessoas espalhadas por todo o globo terrestre. É um alerta de que a dependência química produzida pela ingestão de álcool, e todos os males que ela produz na vida do dependente, é um problema muito sério e que envolve questões sociais.
            Em contrapartida a esta propaganda contra o alcoolismo, a mídia apresenta inúmeras formas de incentivo a esta prática. A mesma novela mostrava festas onde as pessoas bebiam a vontade, em ambiente alegre e familiar. Tomemos como exemplo a grande maioria das letras de músicas de forró que diariamente tocam nas rádios. Nelas, o consumo exagerado de bebidas alcoólicas é incentivado e vem acompanhado de diversos males, como a prostituição, o adultério, a violência, a promiscuidade, e muitos outros. O consumo de álcool é, ainda, exaltado nos comerciais, que mostram mulheres bonitas, homens sarados, em clima de muita festa, muita alegria, esporte e lazer. O consumidor é levado a crer que está fazendo um bom negócio ao consumir aquele produto, sem atentar para os diversos males que ele pode causar a sua saúde e à saúde dos que estão à sua volta.
            O álcool etílico, apesar de toda a propaganda a seu favor, é uma espécie de droga (das chamadas drogas lícitas), e como tal causa dependência química, tanto nas bebidas destiladas quanto nas fermentadas. Sendo a droga mais consumida do mundo, o álcool produz resultados desastrosos que prejudicam o lado físico, emocional, mental e social do seu consumidor, o que não aparece na sua vasta propaganda. A ingestão de bebidas alcoólicas tem roubado a infância e a adolescência de muitas pessoas, que através do mau exemplo dentro de casa ou da influência de amigos e da mídia, começam a beber logo cedo.
            Vejamos alguns males provocados pelo consumo de álcool:

  • O álcool pode trazer danos ao cérebro e ao sistema nervoso, ocasionando falta de memória, baixa capacidade de produção e baixa qualidade no trabalho, queda no rendimento escolar. Ele influencia negativamente nos relacionamentos, nas decisões a serem tomadas e produz descuidos freqüentes. Isto conseqüentemente altera a personalidade do indivíduo, tornando-o uma pessoa ansiosa, desatenta, desinteressada e violenta.
  • O álcool torna as pessoas desinibidas, capazes de fazer coisas que jamais fariam se estivessem sóbrias, colocando-as em situações constrangedoras, para elas e para quem as estiver acompanhando. Isto acontece porque, uma vez embriagado, serão as toxinas presentes no álcool que comandarão o cérebro e ditarão as atitudes do indivíduo. Com o tempo a moral vai-se perdendo e o alcoólatra passa a não ter mais o respeito de ninguém.
  •  Também por causa das suas toxinas, o álcool torna organismo indefeso, ocasionando diversos tipos de doenças: derrame cerebral, pancreatite, diabetes, hepatite, ataque cardíaco, pneumonia, tuberculose cirrose hepática, leucemia, entre inúmeras outras. Ele traz dependência física e psíquica, além de depressão. Se ingerido com remédios, seu perigo aumente ainda mais. Tudo isso traz grandes transtornos, não só para o indivíduo que adoece, mas para a sua família e para o Estado, que precisa investir anualmente grande soma de dinheiro para cuidar desses pacientes.
  • A ingestão de álcool durante a gravidez intoxica os bebês e pode colocar em risco a sua saúde, indefinidamente, podendo ocorrer a Síndrome Fetal Alcoólica.
  • O álcool pode causar, ainda, distúrbios menstruais, frigidez, impotência e reduzir a fertilidade.
  • Além dos males à saúde, o álcool promove grandes males sociais. A começar pelo ambiente familiar, ele produz a violência doméstica, onde são praticados crimes de espancamento de esposas (ou maridos) e filhos, tortura, discussões, divórcio e homicídios.
  • Nos bares o álcool é responsável por discussões e brigas, o que gera violência, espancamentos e homicídios, trazendo prejuízo para os donos dos estabelecimentos e para toda a sociedade. O mesmo ocorre em boates ou qualquer outro lugar onde o álcool esteja sendo consumido.
  • A propaganda das fábricas de bebidas alcoólicas exploram a necessidade de quem bebe, que deseja se tornar inteligente, jovem, extrovertido, simpático, poderoso, charmoso, bonito, forte, rico, superior, elegante, amável... Mas não mostra que a bebida torna o homem improdutivo e indesejado, podendo vir a perder o seu emprego e seus bens. Não mostra que ele é ridicularizado, humilhado e evitado pelos amigos e familiares, pelos lugares onde costuma freqüentar. Não mostra que ele se torna um peso grande para a sociedade que tem de arcar indiretamente com as despesas do seu vício.
  • Além das doenças que o álcool já proporciona, o indivíduo alcoolizado está sujeito a descuidos que podem lhes trazer grandes transtornos. Uma gravidez indesejada, sexo ilícito, doenças venéreas e Aids. Ele tanto pode contrair como pode espalhar doenças.
  • Ainda pelo descuido causado pela embriaguez e pela falta de autocontrole que ela também provoca, o indivíduo está sujeito a provocar incêndios, cometer estupros, roubos, sofrer e causar acidentes de trabalho, sofrer quedas e afogamentos, ser atropelado, roubar, suicidar-se.
  • Mas é no trânsito que os males provocados pelo consumo de álcool se tornam mais gritantes. A maioria dos acidentes causados nas rodovias federais e estaduais do país e do mundo são provocados por indivíduos que dirigiam bêbados. O álcool causa sérios problemas de visão e coordenação motora. A maioria dos acidentes é fatal e envolve não somente o motorista alcoolizado, mas os passageiros do veículo que ele dirigia, e quem quer que esteja ao seu redor, seja em outro carro, na calçada ou na faixa de pedestres. O prejuízo emocional causado às famílias é incalculável. E os causados ao Estado e às seguradoras também.

Com certeza esta lista se estenderia ainda mais, se fôssemos estudar mais profundamente a questão. Mas apesar de tudo isso ser de conhecimento de todos, inclusive dos que fazem uso abusivo do álcool, este continua sendo exaltado nas propagandas, nas músicas e nos programas de TV. Sendo a droga mais antiga da humanidade, o álcool já faz parte da maioria das culturas mundiais e torna-se uma questão muito difícil de ser tratada. É praticamente impossível convencer as pessoas a não beberem, mesmo com todos os males que a bebida alcoólica pode causar. O cidadão bêbado sofre um acidente de carro por causa da sua imprudente mistura de álcool e direção e, se sobreviver, pode juntar os amigos para beber e comemorar.
Há muitos anos, a propaganda de cigarro foi suprimida da mídia, ficando restrita aos locais onde esta “droga lícita” é vendida. Nas embalagens de cigarros, o Ministério da Saúde têm colocado avisos com fotos chocantes prevenindo contra os males provocados pelo fumo. Alguns deles: câncer de pulmão, câncer de laringe, bronquite, enfisema pulmonar, infarto, distúrbios da circulação, infecções respiratórias, úlceras do estômago, úlceras do duodeno, amputação de membros do corpo, entre várias outras. Vê-se que o álcool provoca doenças similares. Mas o cigarro costuma prejudicar normalmente só o seu usuário; a bebida alcoólica, todavia, prejudica a sociedade como um todo, como vimos acima; é bem mais perigosa.
Por que, a exemplo do que foi feito com a propaganda do cigarro, o governo não proíbe a propaganda de bebidas alcoólicas? Há pouco tempo as empresas fabricantes de bebidas estão sendo obrigadas a vincular em suas propagadas frases como: Beba com moderação, Se for dirigir não beba; se for beber não dirija. E ainda há quem vincule: Deguste-a com parcimônia, numa linguagem arcaica e fora da realidade dos consumidores. Mas isso não mostra a realidade que temos visto e não contribui em nada para a verdade. O que podemos propor é o seguinte:

  • Proibição da veiculação de propaganda de bebidas alcoólicas em todos os meios de comunicação, a exemplo do que já é feio com o cigarro, inclusive na Internet.
  • Proibição de músicas e quaisquer outras manifestações artísticas que façam apologia ao consumo de bebidas alcoólicas e ao alcoolismo, como temos visto em muitas músicas, em especial de forró.
  • Medidas preventivas, como palestras nas escolas, nas empresas, na mídia em geral, no trânsito; distribuição de propaganda contra a bebida alcoólica, especiais na TV, musicas, etc.
  • Propaganda obrigatória do Ministério da Saúde nas garrafas de bebidas e nos cartazes promocionais prevenindo contra os males provocados pela ingestão de álcool em excesso, como já acontece com o cigarro.
  • Penalidades mais severas no Código de Trânsito para quem dirige embriagado, principalmente se se envolver em acidentes com vítimas fatais.
  • Responsabilização de governos e fabricantes de bebidas alcoólicas por crime de responsabilidade e omissão.
  • Tornar hediondos os crimes praticados por indivíduos alcoolizados.
  • Possibilidade de pedidos de indenização para pessoas que se sentirem enganadas pelas empresas fabricantes de bebidas alcoólicas, que mostram seu produto como inofensivo à saúde e necessário ao bem-estar social do indivíduo.

Estas e outras medidas podem e devem ser adotadas, porque a realidade do alcoolismo tem causado grandes prejuízos ao ser humano, à sua dignidade, sua saúde, sua moral, seu patrimônio. As propagandas não são inofensivas, elas enganam e omitem; elas induzem as pessoas à prática de crimes, à violência. As empresas deveriam ser responsabilizadas e os governos, na medida em que se tornam omissos.
Por sua vez, os que bebem “socialmente” ou os alcoólatras declarados, deveriam repensar seus valores. Aqueles porque um único dia de ingestão de álcool pode custar a sua vida em um acidente; estes porque sua saúde e sua dignidade estão “por um gole”. Todos deveríamos nos mobilizar em favor da vida, porque ela é muito mais que uma dose numa mesa de bar ou em outro canto qualquer.

Literatura de apoio:

Gibi do Álcool e Gibi da prevenção às drogas, Zeli Niehues.
Coleção drogas, Klaus H. G. Rehfeldt, ed. Brasileitura.

quinta-feira, 28 de outubro de 2010

não deixe quem você ama esperando



imagine esta história...


          Você está no trabalho; faltam poucos minutos para o término do seu expediente. Você espera ansioso por esse momento. O telefone toca. Do outro lado a voz carinhosa de uma mulher. É a sua esposa. “Olá, meu amor!” – cumprimenta ela. “Oi, minha vida” – você responde. “Tem alguém aqui que quer falar com você”. “Oi, papai!” – é seu filho do outro lado. Você não pode ver, mas os olhinhos dele brilham enquanto fala com você. “Olá! Como vai o meu garotão?”. “Papai, você vem pra minha festinha?”. “Claro, meu filho. Assim que o papai sair do trabalho vai direto pra casa”. “Você vai trazer o meu presente?”. “Já tá dentro do carro, filhão”.
         Após alguns cumprimentos, vocês se despem. Do outro lado o seu filho dá pulos de alegria. Ele te ama muito e vê em você um grande amigo e um herói. Hoje é a festa de aniversário de 5 anos dele. Já está tudo pronto; em breve os convidados estarão chegando. Ele é seu único filho. Sua esposa é uma mulher maravilhosa, uma mãe e uma dona-de-casa dedicada. Vocês dois se amam muito e se dão muito bem.
         Chega, em fim, o horário de sair. Você está ansioso. Sabe que sue filho o espera para a festa. Mas alguns colegas do trabalho o convidam para ir até o bar na esquina tomar uma “gelada”, afinal, hoje é sexta-feira. Você excita por alguns instantes. Mas é rapidinho, não custa nada... Então você entra no carro com a turma do escritório e vai toma algumas geladas.
         Quando você está no bar tomando a segunda cerveja, o telefone toca. “Onde você está, meu amor?” – é a sua esposa. Um pouco já impaciente. “Calma, querida.Dei uma passada rapidinha no bar com meus colegas pra tomar uma e já to indo”. “Se apresse. O pessoal já está chegando. Seu filho quer tirar foto com você. Comprou o presente dele?” “Sim. Não demoro, não se preocupe”.
         Antes de desligar o telefone, você ouve ao fundo a voz eufórica e ansiosa do seu filho lhe perguntando: “Mamãe, papai já está chegando?”. Mas você decide que uma cerveja mais não vai demorar tanto. E toma mais uma, e outra, e mais outra.
         Finalmente você olha para o relógio e decide que já é hora de participar da festa do seu filho, algo tão importante para os dois. Você está atrasado. Corre. Mas você está mais alegre, diferente; seus reflexos não são mais os mesmos; você se sente tonto. Um amigo se oferece para dirigir por você, mas você recusa; já está acostumado a dirigir assim; é normal. Sua casa não fica tão distante, ora! Entra no carro. Olha no banco do carona o grande pacote de presente. Liga o carro. Sai rapidamente. Seus olhos pesam. No rádio toca uma canção: “De bar em bar, de mesa em mesa, bebendo cachaça e tomando cerveja...”.
         Enquanto você tenta dirigir até a sua casa, a festa já está rolando. Seu filho se diverte com os amiguinhos, brinca e ri com o palhaço. Mas ele sente a sua falta. A festa não é a mesma sem o seu grande amigo, o seu herói. Ele pergunta para a mãe: “Mamãe, o papai já ta chegando?”. “Claro, meu filho” – responde ela já duvidando de si mesma.
         No carro, você olha para o relógio. Está bastante atrasado. Acelera mais um pouco. O carro parece passear na pista. Você faz uma ultrapassagem perigosa, derrapa, perde o controle. Tenta manobrar o volante, mas está tonto, as toxinas do álcool minaram seus reflexos. O carro invade o canteiro central da avenida; atropela um indigente que pedia esmolas. Por fim, bate contra um poste e você é arremessado pelo pára-brisas, já que havia esquecido de pôr o cinto de segurança. Seu corpo projeta-se velozmente contra o poste e seu crânio é esmagado, enquanto o resto do seu corpo é feito em pedaços. O sangue se espalha. Estilhaços de vidro batem contra a grande caixa com um lindo presente dentro. O barulho das sirenes ecoam em poucos minutos.
         O telefone toca na sua casa pouco tempo depois. A festa já está quase no fim. Seu filho já não brinca nem ri tanto. Mas ao ouvir o som da campainha do telefone ele fica eufórico e começa a gritar: “É o meu pai! É o meu pai!”. A sua esposa atende. “É você, meu amor?” – indaga ansiosa. O semblante dela transforma-se. Os olhos se enchem de lágrimas. Ela está paralisada. Alguém do outro lado acaba de lhe dar a notícia do acidente e da sua morte. Ela está em estado de choque. Seu filho puxa a barra do vestido dela. Ela olha para baixo, estarrecida. Ele pergunta: “Mamãe, o papai já está chegando?”. Com a voz sufocada na garganta, a única coisa que ela consegue fazer é largar o telefone, abraçar-se ao seu filho e chorar.

NÃO DEIXE QUEM VOCE AMA ESPERANDO.

NÃO BEBA!

decisão


Decidi deixar de ser quem eu era
Para ser que você queria que eu fosse.
Deixei de fazer a maioria das coisas que costumava fazer
Para fazer somente o que você queria que eu fizesse.
Deixei de pensar em mim
Para que em meus pensamentos só existisse você.
Abri mão de todo o meu querer
Para desejar apenas aquilo que você queria.
Não encontrei limites para o meu autoesvaziamento
Para me deixar preencher totalmente por você.
Eu me fiz simplesmente nada
Para que você fosse tudo em mim e para mim.
Hoje procuro me encontrar em algum lugar
Procuro entender como você pode me abandonar
Quando abri mão de mim para viver para você.
Tento juntar os pedaços que se desprenderam de mim
E reconstituir um pouco daquilo que fui um dia.
Mas quanto mais pedaços consigo reunir
Mais tenho certeza que outros só poderei ter de volta
Quando aquele que lhe dei sem limites e reservas
For devolvido de onde jamais deveria ter saído.
E de todas as coisas que fui capaz por você
Não consigo encontrar qualquer uma que justifique
Que explique a tua ausência da minha vida.
Hoje tento me recompor e ser feliz
Busco a identidade que um dia perdi em você.
E quando eu finalmente me encontrar um dia
Quando tiver reunido todos os meus pedaços perdidos
Saberei quem fui e entenderei quem sou.
Mas de uma coisa o meu coração tem certeza:
Eu jamais serei como antigamente
E por mais que eu tente ser diferente do que hoje sou
Sei que só serei completo e feliz
Quando um dia recuperar a minha imagem perdida:
Você.

terça-feira, 26 de outubro de 2010

uma história inacabada



João desceu de sua mula bem em frente à pequena casa feita de sapê, onde morava com a sua esposa e suas duas filhas pequenas. Era meia-noite. Abriu a porta com tamanha força que a fechadura se partiu em duas. Sua esposa acordou.
- O que foi isto, João?
- Não dá tempo de explicar. Arrume o que puder arrumar numa mala e vamos embora.
- O que houve?
- Já disse que não temos tempo. Cadê as meninas?
- Estão dormindo.
- Acorde elas.
- João, você está me deixando assustada? Diz logo o que foi que aconteceu.
- Zefa – disse João segurando a sua esposa pelo braço e olhando bem fundo nos olhos dela. O seu rosto parecia transtornado. – Você não entende... – Não consegui completar a frase.
- O que é isso não sua mão, João? – Zefa segurou sua mão direita que trazia um objeto.
- Não é nada.
- Me diz que você não esteve lá de novo, João, por favor.
- A gente vai sair dessa...
- Me dá isso aqui, João! – Zefa tenta arrancar da mão de João o objeto.
- Eu não posso! Eu não posso! – gritou João arqueando-se.
                Do lado de fora da casa, o barulho de passos pesados amassando as folhas no roçado denunciava a chegada de alguém. Uma forte luz entrou por debaixo da porta e pelas réstias das janelas. O coração de João acelerou ainda mais.
- O que foi que eu te disse? – gritou Zefa em tom de reprovação.
- Onde está a minha espingarda? – disse ele vasculhando como um louco um armário velho na sala.
- No lugar de sempre, João.
- Entre no quarto. Tranque a porta – olhou e viu que a espingarda não estava carregada.
- Mas o que...?
- Faz o que eu te disse Zefa, rápido! – pegou dois cartuchos e carregou a arma. Zefa correu para o quarto e trancou a porta.
                João se posicionou ao lado da porta de entrada com a arma erguida, encostada ao seu peito. Sua testa suava. Ele jamais havia enfrentado uma situação como aquela. O barulho dos passos parou bem em frente à sua casa. Ele não ouviu mais nada, apenas o silêncio morno da noite sertaneja. João esperava com a arma em guarda. Estava pronto. Mas não aconteceu nada.
- Diabos! – resmungou ele.
                A sua mão tocou a maçaneta da porta e ele a girou lentamente. Não sabia o que haveria de encontrar. Ele abriu a porta com um solavanco e a sua espingarda apontada para a escuridão. Apenas a luz da lua cheia era o que ele podia ver. Olhou para todos os lados, esperava o momento de tudo acontecer. Nada nem ninguém.
- Apareça!- girou ele enquanto avançava pelo terreiro com a arma em punho e girava para todos os lados. – Diabos! – resmungou mais uma vez.
                De dentro da casa, o grito estridente da sua mulher dissipou o silêncio das trevas. Ele olhou para trás e correu o mais depressa que pode.
- Zefa! – gritou ele enquanto entrava espavorido pela casa adentro. A porta do quarto estava trancada. João a forçou o máximo que pode, mas não consegui abri-la. – Zefa, abra a porta! – gritou socando a madeira surrada. Nada. Ele afastou-se alguns centímetros e com o pé derrubou a porta no chão. Entrou com a arma em punho. Não havia ninguém, apenas roupas e cobertas espalhadas pelo chão e uma janela aberta.
                João correu para a janela desesperado. Olhou por ela para todos os lados, mas a única coisa que pode contemplar foi o vazio à sua frente, nada mais. No alto de um pé de algaroba uma coruja piou. Os seus olhos arregalados pareciam fitá-lo. Ela voou para longe, deixando João atordoado.
- Zefa! – gritou ele a plenos pulmões. Os seus olhos estavam cheios de lágrimas.
                Num salto, João pulou a janela e caiu no meio do terreiro. Com a espingarda apontando para a escuridão avançou rumo ao desconhecido. Os seus passos estavam pesados de medo e de remorso. O que ele fizera! Mas não podia deixar a sua família para trás.
- Maldição! – gritou ele enquanto se via cercado pelo breu e pelo silêncio da mata ao seu redor. Ele não sabia, mas grandes olhos o espreitavam detrás do véu sombrio daquela noite, como lentes cinematográficas, observando todos os seus passos, todos os seus gestos. Seja lá quem fosse, podia sentir o medo dentro dele.
- João! – sussurrou uma voz trêmula próximo ao seu ouvido. Ele virou-se para trás empunhando a espingarda, mas não havia ninguém.
- Quem está aí? Apareça de onde estiver! – apontou a arma para todos os lados, mirando o breu.
- João! João! – agora eram inúmeras vozes que penetravam como farpas nos seus ouvidos. Sussurravam seu nome.
- Parem! – gritou ele caindo ao chão com as mãos nos ouvidos. Os sussurros cessaram.
João se levantou atordoado e voltou para dentro de casa, deixou a espingarda sobre a cama das crianças e correu para o quintal. Encheu um balde com água na cisterna ao lado da casa. Pegou uma inchada e escavou o chão, tirando uma quantidade razoável de terra. Misturou a água e fez um barro meio enlameado. Colocou o barro no balde e correu para dentro de casa.
- Eles não vão encontrar isto – disse ele enquanto abria um buraco com um martelo na parede da própria casa. Depois, colocou o objeto que trazia consigo numa lata de ferro, depositou-a no buraco aberto na parede, e fechou tudo com o barro que havia preparado. Seja lá o que for que ele desejava esconder, ali estaria seguro.
                O céu ficou encoberto com nuvens negras e carregadas, como há muito não acontecia naquele recanto escondido do sertão. Um relâmpago cortou o céu com grande estampido e uma chuva pesada começou a cair. João reuniu o que pode numa mala, pegou a sua espingarda e mais alguns cartuchos cheios, colocou sobre a sua mula e partiu em disparada pela estrada de terra cercada pela mata do sertão. Talvez ainda desse tempo de salvar pelo menos a si próprio.
                A chuva castigava-o à medida que avançava. Ele chicoteava o lombo do animal, parecia querer fazê-lo voar. De repente a mula empacou, parecia assombrada olhando o caminho a sua frente, onde mal dava para enxergar algo na negritude e através da chuva que caía torrencial.
- Eia, vamos! – João feriu com as esporas o lombo da mula, mas ela não saía do lugar. – Diabos! – vociferou ele.
                Assim que conseguiu fazer com que a mula se acalmasse, uma coruja veio num vôo silencioso e pousou sobre a cabeça do animal, soltando um forte piado que poderia ser ouvido a dezenas de metros. João olhou em seus olhos, vermelhos como o fogo, parecia hipnotizado.
- O que vocês querem? – murmurou ele.
                A mula bateu em disparada sumindo sozinha na escuridão molhada daquela noite sombria. João nunca mais foi visto... Nem a sua família.

segunda-feira, 25 de outubro de 2010

Sim, é um sonho


Sim, é a saudade de tudo
É essa presença intermitente da tua ausência
É a distância, é o silêncio
É o viver sem ter você ao meu lado.
E o que mais anseio
Como o sertão pela chuva
Como a sabiá pelos primeiros raios de sol
É ver o improvável:
O tempo retroceder e eu poder reviver
Tudo como se fosse
A primeira vez, todos os dias.

Sim, é o sonho que me acomete
Todas as noites, toda a madrugada:
O teu rosto que, acordado
Procuro não lembrar jamais.
O teu cheiro, o teu gosto, o teu sorriso
Nos sonhos se mostram reais
E você está ali, diante de mim
Não como uma estranha
Não como alguém que me disse adeus um dia
Mas como minha
Sempre minha e para sempre minha.

Sim, talvez seja loucura
Talvez eu já tenha alcançado o grau máximo
Da insanidade em meu coração.
Mas, sim, não consigo esquecer
Apenas lembrar, desejar, querer, esperar
Por aquela que um dia partiu
Sem querer olhar para trás
Talvez para não enxergar as minhas lágrimas
Que como gotas de chuva
Molharam torrencialmente o chão da minha alma
E me fizeram sair de mim
Para te buscar nos meus sonhos.

Sim, é o amor que carrego comigo
A certeza de que jamais te esquecerei
Talvez esqueça de mim, do que é viver
Do que é ser feliz de verdade
Mas jamais de você.
Porque, sim, você é o meu grande amor
Aquela que um dia foi Mas que ficou
E ficará para sempre na minha vida
No meu coração
Nas minhas orações.
Te amo.

sábado, 23 de outubro de 2010

seja um parceiro neste sonho

A você que sempre visita o meu blog ou está visitando pela primeira vez

As poesias e textos que estão no meu blog farão parte do meu livro de poesias. Ele se chamará EU TE AMO e contará com poesias escritas desde 1986, que abordam um único tema: o amor romântico.

Além ser a realização de um sonho, o meu livro também cumprirá um papel de responsabilidade social. Parte do dinheiro arrecadado com a sua venda será revertida para dois projetos sociais:

PROGRAMA AMO, Parnamirim, RN
ORFANATO LÍRIO DO VALE, Macaíba, RN

Seja você, também, um parceiro na realização deste sonho e ajude na publicação deste livro, que abençoará as crianças assistidas por esses programas sociais. Deposite qualquer valor em dinheiro na seguinte conta-poupança:

Banco: CAIXA ECONÔMICA FEDERAL
Agência: 0035
Operação: 013
Conta n°: 00243882-0

Maiores informações:
(84) 9425-3294


Que Deus os abençoe grandemente.


Mizael de Souza Xavier

domingo, 17 de outubro de 2010

mudança



A pedra nasce pedra
Vive pedra e morre pedra.
A árvore nasce árvore
Suas formas já estão definidas:
Raiz, tronco, galhos, folhas
Nada pode fazer para mudar.
A vaca nasce vaca
Vive vaca e morre vaca
Não tem consciência de si
Não pensa sobre o futuro
Não tem crise de identidade.
O sol nasce sol
A lua nasce lua
Um não inveja o outro
Ambos cumprem o seu ciclo
Sem saber que o início é início
Ou que o fim é fim.

O homem nasce homem
E se pergunta: quem sou
De onde vim? Para onde vou?
Constrói o seu presente
Planeja o seu futuro
Sorri ou chora com seu passado
Ri do que é engraçado
Odeia, ama, vence, perde
Sabe que nasceu
E sabe que um dia morrerá.

A natureza proclama a glória de Deus
Mas somente o homem pode vive-la!
Diferente da pedra, da árvore
Da vaca, do sol, da lua
O homem pode mudar:
Mudar a si mesmo
Mudar o seu ambiente
Mudar a sua história!
Quando o homem não o faz
Por não se importar
Por se conformar
Ou não conhecer
Torna-se duro como a pedra
Imóvel como a árvore
E como o sol e a lua
Vem e vai sem saber por quê.
Só os que mudam crescem
Só os que mudam
São verdadeiramente homens!